Sem fôlego...
Poesia a gente não faz
Esbarra com ela
Se percebe sem fôlego
E com ela, reaprende a respirar.
O Respirar que Urge
Uma das minhas primeiras lembranças na vida é de mim, aos 2 anos de idade, sentada ao lado de uma bica de água, com um baldinho de plástico azul, cheio de pequenas conchas do mar, ainda sujas de areia, que eu havia catado na praia durante toda a manhã.
Eu as lavava cuidadosamente debaixo da água, deixando a água cheia dos restos de areia, escorrer de volta para o balde, se acumulando novamente sobre as conchas todas. Me lembro da sensação fresca da água, que me molhava toda naquele dia quente, pós praia. Lembro também de querer limpar cada concha cuidadosamente. Deve ter me intrigado e irritado o fato de elas não estarem ficando limpas como eu desejava, ou acabei descobrindo que devia deixar a água suja escorrer para o lado de fora do balde, mas essa lembrança eu não guardei. Apenas as sensações de alívio, de desejo, de frescor, ficaram comigo. Esse primeiro momento, essa primeira lembrança se mantiveram comigo durante toda a minha vida, como um exemplo de como comecei a construir as minhas formas de me relacionar com o mundo, de como aprendi desde cedo a focar nas sensações que me cercavam, que me tocavam e de ir estendendo a jornada a medida em que ia tateando e encontrando as respostas para o que me incomodava.
Onde moram as belezas?
Onde moram as belezas?
Fotografar, para mim, é meio fazer poesia, tão prazeroso quanto e tão dolorido tbem. Encontrar beleza em cantos escuros, abandonados, em lugares não vistos, sequer olhados, não é fácil, mas está lá, a espera que a vejam.
Gosto disso, da fresta, do escombro, do facho de luz na escuridão, da textura. Gosto também das belezas escancaradas, luas plenas, flores exibidas, sol nascendo ou morrendo lindamente, de gente intensa ou serena, de criança feliz, mas a beleza encontrada onde menos esperamos, onde deveria ser fim, dor ou feiura, nos leva para um outro lugar, nos tira do óbvio e nos permite respirar melhor.
No detalhe, mora o infinito.
Sob um prisma
A luz se decompõe
Vira cor
Múltipla
Vira beleza
O olhar
Faz dessas também.
Asas e raízes
Eu...
Não me cabe.
Não me cabe,
não me caibo
transbordo
transformo
transponho
e me pertenço
sendo dos outros sou mais minha
esparramando, situo
e não me caibo
sou mais,
muitas
e me pertenço...
Semeando
Quando o que a gente escolhe
Levar com a gente
é a semeadura,
o que sobra é o florescer.
Semeando
Já nasci antiga, com o olhar atento
aprendi a gostar de sabores azedos,
e a dançar quando a música se apresenta
aprendi a olhar nos olhos do outro
e a cantarolar quando me sinto só
a sonhar quando a realidade endurece a paisagem
a silenciar quando a cabeça ameaça explodir
aprendi que cada passo constrói uma estrada
e que quanto mais aprendo, mais terei a descobrir...
Clareza
Clareza é a palavra
Clareza no olhar, que traduz a alma
Na leveza da mente, que guia e traz calma
No caminhar decidido, para onde é preciso ir
No modo de ver, no pensar e no agir
No decidir, eis o caminho
Caminho que, em si, já é destino e porvir
Que traz a clareza para dentro do peito
E deixa para o tempo, o ficar e o partir.